
A Lógica Por Trás da Nova Ferrovia
O projeto da Ferrovia Transoceânica, assinado pela Infra S.A. e o Instituto de Planejamento Econômico da China Railway, tem um objetivo estratégico claro: abrir um novo corredor para o escoamento de commodities, como a soja e o minério de ferro, diretamente para a Ásia. Com um traçado que parte da Bahia, atravessa o Centro-Oeste e segue até o Peru, a ferrovia busca encurtar a distância e o tempo de viagem em mais de 10 dias, oferecendo uma alternativa mais competitiva aos navios que hoje precisam contornar o continente. A ausência do Espírito Santo nessa rota, portanto, não é um descuido, mas uma escolha técnica para evitar as rotas já existentes e criar um novo fluxo de comércio.
A Outra Rota: O Papel Central do Espírito Santo
Se o novo projeto se concentra em abrir uma porta para o Pacífico, o Espírito Santo já é há anos o principal guardião de uma das mais importantes portas brasileiras para o Atlântico. Com portos como o de Vitória e, especialmente, com o projeto do Porto Central, o estado se posiciona como um hub logístico crucial para as trocas comerciais com a Europa, a África e as Américas.
A malha ferroviária do estado, com a eficiente Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), operada pela Vale, já garante o escoamento de minério e outras cargas pesadas do interior do país para os portos capixabas. A viabilidade logística de Vitória é baseada em uma infraestrutura sólida, que opera em um sistema próprio e distinto do que a ferrovia bioceânica busca criar.
A Relação entre o Público e o Privado
Para entender essa dinâmica, é preciso desmistificar a ideia de que há um conflito entre o estado e o governo federal ou grandes empresas como a Vale. Pelo contrário, o recente acordo entre a mineradora e o governo para a repactuação de concessões bilionárias reforça a importância estratégica dessa malha ferroviária. O alinhamento das partes garante que o Espírito Santo continue investindo e operando seu próprio corredor logístico, de forma coesa com a estratégia nacional.
O Brasil, com isso, não está “trocando” uma rota por outra. Em vez de se concentrar em um único caminho, o país está investindo em um modelo de “duas portas” para o mundo. O projeto transoceânico abre um novo e promissor caminho para o mercado asiático, enquanto o Espírito Santo solidifica sua posição como a porta principal para os mercados ocidentais e atlânticos, garantindo flexibilidade e resiliência em um cenário de comércio global cada vez mais competitivo.