Desde que me mudei da capital capixaba para um outro município dentro da Grande Vitória, e tendo morado por seis anos na capital, eu tenho observado de perto as dinâmicas de alguns municípios e, dessa vez, vamos analisar a cidade de Vila Velha. E, como jornalista, me intriga a narrativa que tem sido construída sobre a economia da cidade. A impressão que nos dão é de um crescimento invejável, com números que, à primeira vista, parecem robustos. Mas, na minha visão, essa é uma realidade com duas faces.
Jornalista Lauro Nunes
Primeiro, os dados que me chamaram a atenção:
- Liderança em Abertura de Empresas: Fui atrás dos números e confirmei que Vila Velha realmente liderou a abertura de empresas no Espírito Santo. Em um único mês de 2025, foram 900 novos negócios, segundo dados da Junta Comercial do Estado do Espírito Santo (Jucees).
- PIB e Renda: O PIB per capita da cidade, em 2021, era de R$ 32 mil, um dado oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso, em teoria, me levaria a crer que a riqueza está bem distribuída.
Mas, como jornalista, eu aprendi a olhar além dos números frios. E foi aí que eu encontrei o que chamo de “máscara” da economia.
Fui buscar qual o perfil dessas empresas e a realidade dos salários. A maioria esmagadora dessas novas empresas, cerca de 74%, é de Microempreendedores Individuais (MEI), conforme dados públicos disponibilizados no perfil do município pelo Sebrae (veja a fonte aqui: https://datampe.sebrae.com.br/profile/geo/vila-velha). E os salários pagos nos setores que mais empregam — Comércio e Serviços — variam de R$ 1.500 a R$ 2.500, com base em relatórios do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e informações de seleções de emprego, como as divulgadas pela Prefeitura de Vila Velha, onde salários para cargos de nível médio, por exemplo, partem de cerca de R$ 2.029 (como em processo seletivo publicado no site da prefeitura: https://www.vilavelha.es.gov.br).
Essa discrepância me leva à seguinte conclusão: como pode o PIB per capita ser tão alto se a renda da maioria da população é tão baixa? A resposta é clara para mim. Existe uma concentração de renda nas mãos de um grupo muito pequeno. Os R$ 32 mil de média são inflacionados pela riqueza de poucos, enquanto a grande massa da população vive com salários que mal garantem o sustento. A própria dinâmica de distribuição de recursos federais para o município, disponível no Portal da Transparência do Governo Federal (https://portaldatransparencia.gov.br/localidades/3205200-vila-velha), mostra para onde o dinheiro se move, e raramente é para o bolso dos pequenos trabalhadores.
Um Cenário Minuciosamente Construído
Tenho observado que essa dinâmica não é um acidente, mas o que me parece ser uma prática orquestrada em Vila Velha e em outros grandes municípios do Espírito Santo. O objetivo, na minha visão, é criar um ambiente favorável para que os mais afortunados encontrem serviços com salários baixos.

- O Custo Real da Modernização: A modernização da cidade, com o boom imobiliário e os empreendimentos que atraem inclusive funcionários públicos e pessoas ligadas ao governo, exige uma base de mão de obra para funcionar. Mas, os dados de IPTU e condomínio mostram a quem essa modernização realmente serve. Apenas o custo anual do IPTU de um apartamento de padrão médio em bairros como Praia da Costa ou Praia de Itaparica pode superar os R$ 2.000, enquanto as taxas de condomínio chegam a mais de R$ 1.500 mensais. Esses valores, por si só, são inacessíveis para quem vive com o salário médio de R$ 1.500 a R$ 2.500.
A Contradição em Evidência: Um Feirão de Dívidas para o Motor do Crescimento

A apuração me trouxe uma prova irrefutável da fragilidade que eu já suspeitava. A Prefeitura de Vila Velha, a mesma que comemora a liderança na abertura de empresas, agora promove um “feirão de renegociação de dívidas” para esses mesmos microempreendedores.
É um fato que escancara a “máscara” da economia: a promessa de prosperidade para os pequenos negócios é tão frágil que muitos caem no endividamento, forçando o poder público a intervir com perdão de juros e multas. Esse cenário não é um acidente; é a consequência direta de um modelo de crescimento que gera empregos, mas sem a devida sustentação financeira para a maioria.
O feirão não é um ato de bondade, mas uma admissão tácita de que há um problema sistêmico. E é exatamente essa a luz que esta matéria precisa trazer.
Como jornalista, meu papel é trazer à tona a verdade por trás dessa “modernização”. E é isso que eu quero que esta matéria faça. De forma sutil, elegante e educada, vamos mostrar que, por trás dos números de crescimento, existe uma realidade de desigualdade que não pode mais ser ignorada.

“O Governador Renato Casagrande, ao lado do Prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo. Senhores governantes, sou um cidadão insatisfeito com esta ADMINISTRAÇÃO e coloco meu veículo de comunicação à disposição!”
Jornalista Lauro Nunes