O Novo Campo de Batalha do Empreendedor e a Crise de Identidade
O sucesso empresarial, no século vinte e um, deixou de ser uma métrica puramente financeira. Lucro, é claro, permanece fundamental, mas a sustentabilidade e o impacto social de um negócio agora definem sua longevidade. Entramos na era do Novo Empresário, um líder que precisa alinhar a busca por resultados com a inevitável Responsabilidade Social.
No entanto, por trás de muitas fachadas de prosperidade e faturamento, esconde-se um paradoxo intrigante. Muitos comerciantes e empresários do setor de serviços, que já conquistaram um alto nível financeiro, permanecem paralisados. Eles ganham dinheiro, mas não conseguem “subir de nível”, estagnando o crescimento de seus negócios e o próprio potencial. A causa não está no mercado, mas em um bloqueio invisível: a Mentalidade de Escassez.
O Nó que Trava a Máquina de Ganhar Dinheiro
A escassez é frequentemente associada à falta de recursos. Mas, para quem já fatura alto, ela se manifesta como um medo irracional de perder o que foi conquistado. Esse temor é um vírus que sabota a expansão:
Primeiro, a Aparência de Riqueza, Mente Pobre. O empresário recusa-se a delegar ou contratar um gestor de alto nível, com medo do custo. Ele centraliza a operação, transformando-se em um escravo do próprio negócio. A empresa atinge o teto da capacidade física do dono e não escala.
Segundo, o Conservadorismo Inflexível. O investimento em tecnologia ou em programas de compliance social é visto como “despesa”, não como “alavancagem”. O apego a métodos antigos, que “sempre funcionaram”, impede a inovação e a adaptação. A mentalidade de escassez gera aversão ao risco e foco excessivo no curto prazo, impedindo o planejamento de longo prazo.
Terceiro, a Ausência de Valor Compartilhado. A recusa em integrar a responsabilidade social (ESG) na estratégia não é apenas um erro ético, é um erro de mercado. O novo consumidor exige propósito, e a escassez de visão impede o empresário de entender que o bem-estar da comunidade e da equipe retroalimenta o lucro. O Pacto Global da ONU estabelece há mais de vinte anos que a sustentabilidade corporativa é a maior iniciativa mundial para o sucesso empresarial no longo prazo.
A Crise de Identidade: O Empresário como Governante Global
A raiz da estagnação vai além da gestão. Ela reside em uma profunda Crise de Identidade.
Muitos empresários, no Brasil e em outros países, operam sob a ilusão de que são entidades isoladas: “Basta eu ter sucesso, estar vendendo e ganhando dinheiro. O resto não é problema meu.” Este é o sintoma de um complexo de superioridade mal resolvido, uma recusa em aceitar a verdadeira escala de seu poder e responsabilidade.
Na prática, o empresário é o principal alicerce da economia global e governa o mundo muito mais do que a maioria dos políticos. As decisões de uma grande empresa sobre investimento, logística, descarbonização ou localização de fábricas moldam cadeias de valor, criam ou destroem empregos e definem o futuro de comunidades inteiras. Quando o empresário se fecha em sua visão micro, ele abdica de sua função global e se diminui perante o cenário que ele próprio constrói.
A transição para a mentalidade de abundância exige que o empresário saia da microgestão e adote uma Visão Multidimensional. No Brasil, essa visão é inseparável da leitura do ambiente político e macroeconômico, que impõe as Forças Incontroláveis do Mercado.
O empresário que permanece na escassez vê o Ambiente Político apenas como uma ameaça. A volatilidade cambial, as mudanças tributárias ou a instabilidade regulatória são vistas como obstáculos intransponíveis.
O Novo Empresário, com uma mentalidade de prosperidade, age diferente:
O Eixo Commodities e o Mercado Financeiro
A instabilidade é o preço da oportunidade no Brasil, um país-chave na cadeia global de commodities. O empresário com visão de escassez lamenta a alta do dólar ou do preço da matéria-prima. O empresário da abundância entende a interconexão.
A elevação do preço global de uma commodity, por exemplo, desequilibra orçamentos, aumenta a inflação e afeta a taxa de juros, impactando diretamente o custo do crédito para qualquer negócio. Estudos sobre a volatilidade da taxa de câmbio e investimento provam que a incerteza cambial afeta a decisão de investimento das empresas, exceto as que já operam com estratégias de proteção.
O Jogo Geopolítico se reflete instantaneamente na força do Real. O líder de sucesso lê o cenário diplomático como um fator de risco e diversifica fornecedores e clientes para não ser refém de uma única economia.
Antecipação Política e Estratégia de Engenho
A adaptação no Brasil exige uma estratégia que o teórico da ação humana definiria como Engenho.
As constantes mudanças regulatórias e fiscais brasileiras são a “sorte cega” do mercado. O empresário não pode controlá-las, mas pode construir “reservas e barragens” internas para resistir a elas. Essas “barragens” são: processos ágeis, compliance rigoroso e a construção de influência através de associações estratégicas que permitem a antecipação de pautas.
A Responsabilidade Social se torna a arma diplomática do empresário. Pesquisas sobre o desempenho ESG na crise da COVID-19 já demonstraram que as empresas com as melhores práticas socioambientais apresentaram maior resiliência e melhor performance financeira, provando que é investimento. Além disso, a Resolução CVM 193/2023 já alinhou o mercado financeiro brasileiro aos padrões internacionais de relatórios de sustentabilidade, reforçando que ESG é fator de risco e valor.
O Salto de Nível: Transformando Medo em Domínio
A estagnação do empresário “bem-sucedido, mas escasso” é, portanto, um ato de covardia estratégica. Ele permite que seu Medo da Perda paralise sua Capacidade de Agir e Adaptar-se, tornando-o vítima das forças externas que ele não controla. Um dos sintomas é a queda na quantidade de empresas que inovam, conforme dados da Pesquisa de Inovação (PINTEC) do IBGE.
O salto de nível exige:
- Aceitar o Risco como Custo de Expansão.
- Delegar o Operacional para Liderar o Estratégico.
- Integrar o Propósito.
A verdadeira prosperidade empresarial é atingida quando a mentalidade de abundância se torna a única lente pela qual o líder enxerga o mundo. É a coragem de assumir o comando de sua jornada e superar a crise de identidade, transformando as variáveis do ambiente macro, político e social em catalisadores do crescimento. O Novo Empresário não apenas sobrevive; ele prospera, pois domina a arte de adaptar-se e liderar com propósito e visão.
Jornalista Lauro Nunes
