O Coronel Urbano e a Ditadura do Comodismo
O novo perfil de poderoso em nossa capital é o “Coronel Urbano” – um sujeito que atrofiou sua capacidade cívica de caminhar. A dependência do automóvel é patológica e absoluta.
É o tipo de empresário que, se vai à padaria na esquina, vai de carro. Se mora de frente para o mar e quer ir à areia, tira o carro da garagem. A inércia é tamanha que a piada já vem pronta: se o sujeito for dar um peido, ele vai de carro. O carro não é usado por necessidade; é usado como uma bolha para isolar o “Coronel” de qualquer contato com a realidade urbana ou com a precariedade alheia.
A Senzala dos Morros e a Mentira da Geografia
Enquanto o Coronel desfila sua “invalidez moral” no asfalto da Casa Grande, a verdadeira “Senzala Moderna” resiste nos morros e nas periferias. A desculpa do Estado para o transporte que falha nessas áreas é sempre a geografia: “o morro é alto”, “a rua é estreita”.
Mentira. Olhem para a Suíça. Um país alpino onde o transporte público (funiculares, trens) vence a montanha, garantindo que o cidadão do topo tenha a mesma dignidade do cidadão do vale. Olhem para a China, onde a bicicleta e o transporte coletivo são prioridade de Estado. Aqui, em Vitória, a ineficiência é uma escolha política que privilegia o status do carro em detrimento da vida coletiva.
O Contágio Social e a Falsa Esperança
O sistema é tão perverso que corrompe até a esperança. Parlamentares que vieram da base, do “morro”, e foram eleitos para lutar contra essa injustiça, são rapidamente expostos ao “contágio social” da Câmara. O carro oficial e os privilégios agem como um vetor: o parlamentar troca a vivência da fila do Transcol pela segurança e conforto da bolha do poder. Ele se sela na mentalidade do Coronel Urbano, perdendo a conexão visceral com a precariedade que jurou combater.
Nessa encenação de uma abolição que nunca se concretiza, a sociedade é levada a discutir se a solução virá por uma Primeira-Dama — a versão moderna e benevolente da Princesa Isabel. Mas a história é clara: a abolição decretada de cima é sempre incompleta. A instituição da Primeira-Dama, por definição, está na Casa Grande.
A Lei que Forçará a Abolição
A liberdade só será plena quando for conquistada por quem sente na pele o peso da mordaça da invisibilidade. O surgimento de uma Nova Anastácia, ou seja, a organização e a voz da base, é o que forçará a mudança.
Mas para acelerar esse processo e furar a bolha do privilégio, precisamos de uma medida radical e comprovada:
É preciso uma nova lei que obrigue, sob pena de perda de mandato, que prefeitos, vereadores, secretários e deputados estaduais utilizem exclusivamente o transporte público (ônibus e modais ativos) para se locomover de casa para o trabalho e em todas as suas atividades de rotina e fiscalização.
Jornalista Lauro Nunes
Essa não é uma ideia utópica. É um case de sucesso! O Ducado de Luxemburgo, um país com altíssima taxa de motorização, tornou seu transporte público gratuito para todos, visando diminuir o fosso social e os congestionamentos.
A lei em Vitória faria o mesmo: obrigaria o Coronel a sentir o cheiro da senzala. A abolição se concretizará não por um decreto de caridade, mas pela dor do privilégio perdido, forçando a elite a consertar o sistema que ela mesma usa.
