Como jornalista, tenho acompanhado de perto as potencialidades e os desafios de Vitória, ES. É inegável que, apesar de nossa industrialização tradicionalmente em menor escala, nossa capital possui características únicas que nos posicionam estrategicamente para um novo e promissor caminho: a produção de semicondutores. Esta indústria de chips, com sua alta demanda global, ocupando pouco espaço físico e oferecendo elevada rentabilidade, alinha-se perfeitamente com a notável capacidade de exportação que já demonstramos. Eu venho utilizando as plataformas do Jornal O Centro para sugerir essa análise e debater esse vasto potencial que, até o momento, nossa cidade ainda não está realizando.
Para que essa visão se materialize, precisamos olhar além de nossas fronteiras. Cidades como Singapura, com seu território limitado, provam que é possível se tornar uma potência na fabricação de semicondutores e alta tecnologia, alavancando localização estratégica e infraestrutura de classe mundial. É um modelo em que Vitória pode e deve inspirar-se para atrair investimentos e expertise internacional. Minha sugestão, que nós, na Ordem dos Empresários, temos debatido exaustivamente, é uma parceria estratégica com a China. O país asiático, com seu vasto e crescente mercado tecnológico e grande capacidade de investimento na indústria de chips, poderia ser o parceiro ideal. Essa colaboração envolveria transferência de tecnologia, formação de mão de obra especializada e o estabelecimento de fábricas avançadas (fábs) em nossa capital ou em sua Região Metropolitana, transformando Vitória em um ponto de referência para a produção tecnológica no Brasil e na América do Sul.
Em nossas reuniões na Ordem dos Empresários, estamos em constante diálogo sobre como o cenário macroeconômico e geopolítico global influencia diretamente essa visão para Vitória. As flutuações das taxas de juros dos Estados Unidos, que impactam o fluxo de investimentos, são apenas uma parte do tabuleiro. O surgimento e a consolidação do BRICS, um novo e poderoso bloco econômico composto por nações como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, mais recentemente, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, altera profundamente a dinâmica global de comércio e investimento. Dentro desse contexto, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), braço financeiro do BRICS, emerge como uma fonte crucial de captação de investimentos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento, abrindo portas para que iniciativas como a da indústria de chips em Vitória busquem financiamento e parcerias fora dos eixos tradicionais. A rivalidade tecnológica entre grandes potências como EUA e China também cria lacunas e necessidades para novos polos de produção, e é nesse momento que a assertividade na inserção global de Vitória pode representar um diferencial competitivo, exigindo um alinhamento cuidadoso com as políticas nacionais e um olhar atento às tendências de realocação das cadeias produtivas globais, aproveitando o surgimento de novos players e fontes de capital.
Nossa capacidade de exportação é um trunfo inegável nesse projeto que nós, da Ordem dos Empresários, discutimos incansavelmente. Com um dos mais importantes complexos portuários do Brasil, Vitória já possui a logística e a infraestrutura necessárias para escoar produtos de alto valor agregado para os mercados globais. Diferente de commodities volumosas, os chips são leves, valiosos e demandam transporte seguro e eficiente, características que se alinham perfeitamente com nossos terminais e a rede de comércio internacional já estabelecida. Posicionar Vitória como um polo exportador de tecnologia microeletrônica nos integraria ainda mais nas cadeias de suprimento globais, fortalecendo nossa posição no comércio exterior e atraindo divisas. O desafio que me instiga e que temos levado a todos os debates é transformar essa clara oportunidade em realidade, mobilizando todos os setores e as políticas necessárias para darmos o primeiro e decisivo passo.
Um Salto para a Economia do Conhecimento, que Exige Nossa Ação Coordenada e Visão Global:
Para mim, a aposta na indústria de semicondutores em Vitória é mais do que um projeto industrial; é um salto estratégico para a economia do conhecimento e uma afirmação de nossa capacidade de nos reinventar. Com parcerias globais, incluindo as que podem surgir do BRICS e do Novo Banco de Desenvolvimento, a expertise de instituições de pesquisa e o aproveitamento de nossa vocação exportadora, Vitória, ES, pode não apenas superar o desafio de sua baixa industrialização tradicional, mas também se consolidar como um centro de tecnologia, inovação e comércio internacional, redefinindo seu papel no cenário econômico global. A questão que nos interpela, como líderes empresariais e como comunidade, é: quando essa visão ambiciosa, que nós, da Ordem dos Empresários, debatemos e defendemos ativamente, deixará o plano das ideias para se tornar um marco na história econômica da nossa cidade, aproveitando este momento de virada global e as novas arquiteturas financeiras internacionais.