Para a gigante global do minério, a paralisação do projeto da nova ferrovia no Espírito Santo não é um erro de promessa, mas uma questão de alinhamento estratégico e de risco financeiro.
Jornalista Lauro Nunes

A raiz do problema: uma falha na articulação política
A insatisfação pública do governador Renato Casagrande com a Vale, expressa como “insensibilidade” da empresa, contrasta com uma análise mais pragmática do cenário. A raiz do problema não está apenas na atitude da Vale, mas na fragilidade da articulação política do próprio governo capixaba. A gestão de Casagrande confiou em um acordo dependente de uma negociação maior, entre a própria Vale e o governo federal, que se arrastou por anos sem uma conclusão definitiva.
O impacto do Porto Central
Essa vulnerabilidade se soma a outro fator crucial: o atraso na construção do Porto Central, em Presidente Kennedy. O porto é o destino final e principal cliente da nova ferrovia. Com a obra em compasso de espera, a Vale perdeu o incentivo e a urgência para injetar bilhões de reais em uma infraestrutura que, no curto prazo, não teria um retorno claro. A empresa, então, optou por realocar suas prioridades para projetos com maior segurança jurídica e operacional, como a manutenção de suas usinas e o Porto de Tubarão.
Decisão calculada e pragmática
Em suma, a Vale age com base em análise de risco e retorno. A pressão política, embora gere ruído, é secundária diante da falta de sincronia entre os grandes projetos e da incerteza no acordo federal. O que para o governo do estado é uma “falta de sensibilidade”, para a empresa é uma decisão calculada e pragmática diante de um cenário de alto risco.