A política salarial e de gestão do governador Renato Casagrande (PSB) para as forças de segurança do Espírito Santo é alvo de uma grave denúncia do presidente do Sindicato dos Policiais Civis (ASSINPOL), Júnior Fialho. Em denúncia recente (vídeo anexo), Fialho acusa o governador de criar um “problema gerencial” ao quebrar a histórica equivalência salarial entre a Polícia Civil e a Polícia Militar e, mais grave ainda, de se recusar a dialogar com as lideranças que apresentam a “verdade” sobre as categorias.
Quebra de Equivalência e Problema Gerencial
A denúncia técnica do ASSINPOL se concentra no reajuste desigual. Fialho alega que o Palácio Anchieta costumava usar a legislação de alinhamento entre as corporações (conforme previsto no Estatuto da Polícia Civil) como justificativa para frear reajustes. Agora, o cenário é de discriminação, com o governo promovendo um aumento diferenciado que beneficia desproporcionalmente a cúpula (Coronéis e Delegados de Chefia), em detrimento da base, que está sobrecarregada.
“Nós temos uma legislação que não poderia significar [diferença], mas o Governador está querendo quebrar isso aí”, afirma Fialho, referindo-se à tabela de subsídio estabelecida pela Lei Nº 11.529/2022.
Ele questiona a validade de uma política que eleva o teto (reajuste para Delegados, por exemplo, que merecem a valorização) mas esquece a realidade dos cabos, soldados e investigadores – a quem ele se refere, metaforicamente, como os “escravos do dia a dia da segurança”. A crítica é que a valorização do alto escalão não chega aos profissionais que executam o serviço na ponta, ampliando o fosso salarial.
Diplomacia Vazia e Fuga do Diálogo
Além da crise salarial, a denúncia se aprofunda na gestão de relacionamento do governador. Júnior Fialho alega que Casagrande evita receber as lideranças que trazem as “situações crônicas” das polícias, preferindo agendar encontros com “pessoas inexpressivas ou pessoas que estão batendo palma”.
O jornalista Lauro Nunes endossa a crítica: a postura de Casagrande sugere que ele vende uma diplomacia que não pratica. “Ele é uma pessoa muito educada, mas usa assessores para filtrar o diálogo, dando respostas vazias. Ele sabe quem é detentor da verdade e quem ele não pode transferir a liderança”, afirma o jornalista, apontando que a imprensa também sofre com a dificuldade de acesso.
Uso da Comunicação para Encobrir a Verdade (Foco nos Xingamentos)
A crítica ganha um componente de manipulação de narrativa: a ASSINPOL e o jornalista Lauro Nunes rebatem a postura pública do Governador nas redes sociais. Casagrande costuma afirmar que as lideranças de mentes geniais não o procuram para o diálogo, sugerindo que preferem o embate virtual e xingamentos.
Júnior Fialho desmente a versão: “Ele não atende, mas depois diz que as lideranças usam a internet ao invés de buscar o diálogo.”
A análise do jornalista e empresário é que Casagrande, reconhecido por sua “excelente comunicação”, estaria utilizando essa habilidade de forma estratégica para distorcer a realidade e inverter o ônus da responsabilidade. A finalidade, segundo a denúncia, é encobrir a verdade sobre a recusa em negociar de forma efetiva e, assim, desviar o foco da crise gerencial.
Padrão Político: A ‘Diplomacia da Distância’ no ES
O caso do governador Renato Casagrande, acusado de evitar o diálogo com lideranças críticas, reflete uma prática recorrente e criticada no ambiente político do Espírito Santo. O político e empresário de comunicação Lauro Nunes destaca que a utilização de assessores para criar filtros no diálogo e a projeção de uma falsa proximidade nas plataformas digitais é uma tática observada em grandes lideranças, como deputados federais, estaduais, prefeitos e senadores.
Jornalista Lauro Nunes¹
“Há uma cultura de ‘Diplomacia da Distância’,” avalia o jornalista. “A utilização de assessores respondendo diretamente nos perfis de redes sociais e no WhatsApp cria uma ilusão de acesso e diálogo direto. Enquanto o político vende a imagem de ser acessível e democrático nas redes, ele simultaneamente nega a audiência e o debate real com quem é detentor da verdade sobre as categorias, como é o caso do ASSINPOL. Isso enfraquece a democracia e alimenta a desconfiança.”
O espaço está aberto para o Governo do Estado do Espírito Santo. A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação (Secom) e com a Secretaria de Gestão e Recursos Humanos (Seger) para buscar o posicionamento oficial sobre as acusações de quebra de equivalência salarial e a alegada recusa em dialogar com as lideranças sindicais.