Desalinhamento Orçamentário e a Crise na Base
A gestão de segurança pública do Governo do Espírito Santo enfrenta um intenso escrutínio devido a uma aparente distorção na priorização de recursos. A denúncia do presidente do Sindicato dos Policiais Civis (ASSINPOL), Júnior Fialho, aponta a quebra da equivalência salarial e o prestígio desproporcional à cúpula da segurança.
Essa política de reajuste desigual é vista não apenas como um problema de folha, mas como um erro estratégico de gestão de pessoal. Os policiais de base — a linha de frente do serviço — se sentem desvalorizados e sobrecarregados, trabalhando em condições de precariedade crônica de equipamentos e salários. A denúncia técnica do ASSINPOL é reforçada por vídeo onde o presidente critica a atitude da gestão.
Análise Técnica (Lauro Nunes): Empresário de segurança privada e especialista em gestão de segurança pública e privada, o que se percebe é uma preocupação exacerbada em prestigiar a Cúpula que não se traduz em um investimento proporcional na capacidade operacional da base. Essa disparidade gera um risco sistêmico onde o servidor público tem sua capacidade de resposta comprometida, minando a eficácia da própria rede de proteção que a sociedade tanto cobra.
Do Erro Gerencial ao Feminicídio
O resultado desse problema gerencial crônico se manifesta de forma trágica na ponta do serviço, expondo a fragilidade do Estado em proteger seus cidadãos.

A deputada Janete de Sá (PSB) utilizou o feminicídio da estudante Júlia de Paula Barbosa para classificar o crime como um “símbolo doloroso da falha” da sociedade. Sua crítica é direta: é urgente o fortalecimento e a injeção de recursos nas delegacias especializadas, centros de referência e nas Patrulhas Maria da Penha. Os números são alarmantes: o Anuário do IJSN apontou 39 casos de feminicídio em 2024, um aumento em relação ao ano anterior.
De forma similar, a deputada Camila Valadão (Psol) cobrou a realização imediata de concurso público para o Iases. A alta taxa de profissionais em designação temporária (DTs) e a falta de assistentes sociais e agentes efetivos são mais um sintoma de ineficácia na gestão de recursos humanos que atinge todo o sistema social do Estado.
O empresário Lauro Nunes especialista em segurança pública e privada, pela faculdade Orígenes Lessa e fundador da empresa Ultra Vision Inteligência Privada, reforça que a falha nas políticas de segurança e socioeducativo são consequências diretas da ausência de um plano de carreira robusto e da priorização questionável de recursos no Executivo.
O Isolamento Político e a Inversão do Ônus
A crise gerencial é agravada por uma falha de relacionamento institucional. O ASSINPOL acusa o Governador de recusar-se a receber lideranças que buscam o diálogo real sobre as situações crônicas das categorias.
Essa recusa é complementada por uma estratégia de comunicação falha nas redes sociais. O governo é acusado de distorcer a realidade e inverter o ônus da responsabilidade, alegando que as lideranças sindicais não buscam o debate, quando o que há, na verdade, é um filtro excessivo no acesso aos gestores. Essa manipulação de narrativa não só desmotiva a base policial, como reforça a sensação de desamparo e fragilidade institucional.
O Ônus da Responsabilidade
Fica claro que as falhas estruturais denunciadas no Legislativo são a consequência direta do desalinhamento orçamentário e da ausência de articulação com as categorias de base (Polícia Civil) denunciadas pelo ASSINPOL. A responsabilidade por essa priorização questionável de recursos e o impacto na segurança da população recai diretamente sobre a gestão do Executivo.
A reportagem reitera que o espaço está aberto para o Governo do Estado do Espírito Santo se posicionar sobre as acusações de quebra de equivalência salarial, a alegada recusa em negociar e as falhas estruturais na rede de proteção, podendo enviar notas à Secretaria de Comunicação (SECOM).
A redação jornal o centro vitória-es