Vitória, ES — Em um movimento que resgata e aprimora uma abordagem já ensaiada em outras administrações do país, a capital capixaba se destaca por promover uma integração estratégica entre a segurança pública e a assistência social. A Prefeitura de Vitória, em uma parceria notável com a Polícia Civil, utiliza a tecnologia de identificação biométrica do departamento para auxiliar pessoas em situação de rua acolhidas nos abrigos municipais.

Embora não seja a primeira vez que uma medida como essa é adotada no Brasil — vale lembrar, por exemplo, do projeto do “hotel popular” no Rio de Janeiro, durante a gestão do ex-governador Garotinho, que também buscou identificar e dar dignidade a essa população —, a iniciativa de Vitória reforça que este é um caminho promissor. Ela demonstra um entendimento de que a falta de documentos é uma barreira fundamental que impede a cidadania plena e a saída do ciclo da pobreza.
Historicamente, um dos maiores obstáculos para a reintegração social de pessoas em situação de vulnerabilidade é a falta de documentos. A perda da identidade oficial as impede de acessar direitos básicos, como programas de transferência de renda, saúde, educação e, em última instância, de participar plenamente da sociedade. É um ciclo vicioso de invisibilidade e exclusão.
É nesse ponto que a parceria entre a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e a Polícia Civil se mostra tão estratégica. Utilizando o mesmo sistema de biometria e identificação por impressões digitais que o departamento de polícia usa em suas operações, os técnicos do abrigo municipal agora podem, em tempo real, determinar a identidade exata de um acolhido.
Em declaração, a Secretária de Assistência Social, Dra. Maria Emília, ressaltou a natureza transformadora da medida. “Trata-se de um ato de dignidade. Uma vez identificada a pessoa, podemos auxiliá-la a obter a segunda via de seus documentos, inseri-la no Cadastro Único e, finalmente, conectá-la a uma rede de apoio que pode quebrar o ciclo de pobreza. É uma porta que se abre para uma nova vida.”
A iniciativa também ressoa positivamente na área de segurança pública. Ao identificar de forma precisa os acolhidos, a cidade não só contribui para a localização de pessoas desaparecidas, mas também estabelece um registro que fortalece a rede de proteção social. O Comandante da Polícia Civil, Dr. Felipe Rodrigues, salientou que a parceria reforça o papel da instituição em servir à comunidade de forma ampla. “Nossa tecnologia está a serviço da sociedade. Usá-la para devolver a identidade a um cidadão é uma vitória não apenas da polícia, mas de toda a cidade.”
Em um momento em que a polarização muitas vezes ofusca a busca por soluções eficazes, a iniciativa de Vitória se destaca por sua pragmática humanidade. Ao unir forças da segurança pública e da assistência social, a capital capixaba demonstra que a inovação tecnológica pode e deve ser uma ferramenta poderosa no combate à pobreza e na construção de uma sociedade mais justa. É um passo audacioso e, sem dúvida, um modelo a ser observado.